quarta-feira, 8 de abril de 2009

Suicídio no shopping

Carta do pai de Pedro Lucas ao Superintendente do Pátio Brasil...


Caro Sr.. Leonel Tafareo, Superintendente do Pátio Brasil Shopping,


Sou o pai do jovem Pedro Lucas, um rapaz íntegro e cheio de esperanças
que recentemente tirou sua vida no Pátio Brasil. Está sendo muito
difícil escrever esta carta, principalmente neste momento em que a
dor, saudade e sentimento de perda ainda se fazem presentes. Mas são
esses mesmos sentimentos, acrescidos do sentimento de indignação, que
me moveram a escrever esse manifesto. Fico a me perguntar quantos
pais, amigos ou familiares das vítimas do shopping Pátio Brasil
tiveram coragem de falar o que pensam, de reclamar os seus direitos de
respeito e segurança, de expor a sua dor? Talvez poucos ou nenhum...
Eu sei que nada trará o meu filho de volta, mas quem sabe esse meu ato
possa preservar mais vidas e trazer mais respeito e consideração
àquelas que já se foram.
Meu caro Sr., antes de acontecer com meu filho já sabia que o suicídio
era uma prática corrente no shopping, já ouvira vários casos: de uma
mulher grávida, uma senhora, vários garotos... Não imaginava que era
tão comum até acontecer com alguém do meu mais profundo íntimo. Outro
dia, através de conhecidos, soube que a estatística de suicídios no
shopping apresenta o número médio de 12 (doze) por ano, ou seja 01
(hum) por mês! Meu Deus, quantas pessoas já se suicidaram lá e
ninguém fez nada?!
Bem, até que já fizeram, pois o pessoal está treinado. A rapidez em
isolar a área, cobrir as vítimas com um plástico preto e acionar a
perícia é admirável. Eles são mais rápidos ainda em acobertar os
fatos. Por que ninguém fala sobre as mortes?
Esse silêncio absoluto, eu comprovei pessoalmente. No último sábado,
dia 14 de março, visitei o shopping, o lugar onde meu filho pulou,
onde ele caiu. Entrei em uma loja aleatória, fingindo ser um comprador
comum. Quando discretamente perguntei do acidente, as atendentes
fizeram cara de censura, “o pessoal faz a maior pressão para não
comentarmos nada”, disse uma delas.
É clara e absurda a política do “pessoal” fazer as pessoas calarem,
fazer as pessoas esquecerem logo o que aconteceu para não prejudicar
as vendas, o lucro do Pátio Brasil. Aliás, do jeito que as coisas
andam, por que ninguém ainda teve a brilhante idéia de abrir uma
funerária no shopping, é dinheiro na certa.
O “pessoal”, a administração do shopping, também não quer nenhuma
relação com os familiares das vítimas, pois ninguém, nenhum empregado
do shopping, nem mesmo o Sr.Superintendente ou outro Gerente do Pátio
Brasil, deu algum amparo à mim, à minha esposa, à mãe de meu filho,
nem um telefonema, carta, ou aperto de mão. Quanta frieza!
A mídia também não faz alarde, o que, por um lado, considero positivo,
pois a coisa fica menos banalizada. Por outro lado, ninguém fica
sabendo dos inúmeros suicídios, fica como se nada tivesse acontecido.
Mas a banalização das mortes no shopping é inevitável, é um problema
da nossa realidade. O suicídio no shopping virou espetáculo rotineiro,
a que vários curiosos querem assistir, fotografar e até filmar a queda
como se fosse a coisa mais comum do mundo.
Antes de o Pátio Brasil virar o lugar comum para os suicídios em
Brasília, a Torre de TV era procurada para esse fim até que, por
respeito à vida humana, colocou-se lá grades protetoras para impedir
que pessoas psiquicamente doentes, no momento maior dos seus
desesperos, dali saltassem. Por que ainda o Pátio Brasil não tomou
esta providência? Esperando o quê? Qual a maior preocupação da direção
desse shopping?
A solução é simples: uma grade, rede ou tela de proteção, vidro ou até
mesmo um parapeito mais alto resolve. O parapeito do lugar de onde meu
filho saltou tem apenas 1 metro e 20 de altura, já é um risco para
qualquer adulto, imagine para uma criança que inocentemente brinca! Eu
tenho certeza que essas medidas não prejudicariam a estética ou o
lucro do local.
Aquele sábado foi minha última visita ao shopping macabro. Minha
família, meus amigos e a todos que eu puder passar essa mensagem,
tenho certeza que pensarão duas vezes antes de visitar o shopping
Pátio Brasil.
Para concluir, Sr. Superintendente, saiba que o seu shopping, dada à
insegurança e facilidade de pular, já é referência em estudos sobre
suicídios, como o lugar mais procurado para esta prática,
infelizmente.
Por fim, gostaria de colocar que o shopping deve
ser um lugar alegre, cultive a vida, e não a morte.
Marcos Dantas.
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